A peculiar cidade fantasma de Thames Town na China é um caso intrigante de cópia arquitetônica e bolha imobiliária. Construída do zero em 2006 como parte de um projeto governamental para descentralizar Xangai, a vila britânica falsificada é um emblemático exemplar dos caprichos da ascensão econômica chinesa.
Com suas fileiras de casas de madeira falsa, praças do mercado vazias inspiradas em Covent Garden e cabines telefônicas vermelhas, a estranha Thames Town incorpora séculos de história arquitetônica britânica em apenas um quilômetro quadrado. Um emaranhado eclético de estilos gótico, Tudor e georgiano se misturam sem critério aparente - uma igreja vitoriana revive ao lado de fileiras de pubs Birminghamianos.
O projeto surgiu durante o mandato do secretário do partido comunista de Xangai, Huang Ju. Buscando aliviar a superpopulação no centro da cidade, Ju planejou nove subúrbios internacionais, cada um com uma temática distinta. Para o distrito inglês, a empresa de arquitetura britânica WS Atkins ganhou a concorrência.
Os arquitetos eram cientes das comparações inevitáveis com cidades temáticas fracassadas como Celebration, da Disney. No entanto, se defenderam afirmando que Thames Town não era um parque de diversões, mas uma comunidade funcional. As estranhezas eram concessões estéticas feitas aos caprichos dos clientes chineses.
De fato, a cultura chinesa vê as cópias com outros olhos. Na China, imitar pode ser uma forma de respeito, um ofício digno de aperfeiçoamento. Thames Town é apenas um sintoma de uma onda maior de ?duplitectura? varrendo o país, à medida que a China emerge de séculos de isolamento cultural.
Apesar das vendas relatadas, a cidade permanece praticamente desabitada. Os altíssimos preços imobiliários - até cinco vezes a renda média anual - colocam as moradias fora do alcance da população local. A maioria dos compradores são proprietários ausentes de Xangai.
O resultado é uma cidade-fantasma sazonal, quieta exceto por alguns casais tirando fotos de casamento. As lojas e pubs permanecem vazios; a Igreja Anglicana agora abre apenas aos fins de semana.
Para os críticos, é a materialização deprimente de um empreendimento falido, tanto cultural quanto economicamente. No entanto, para muitos chineses, Thames Town oferece um vislumbre único de um mundo que eles nunca poderiam visitar. A imperfeição da cópia importa menos do que a oportunidade de vivenciar, ainda que brevemente, o sabor do estrangeiro.
A história da peculiar cidade é emblemática dos excessos da China moderna - suas ambições desmedidas, bolhas especulativas e afã pela legitimidade cultural do Ocidente. Porém Thames Town também revela as profundas rupturas sociais que acompanham a vertiginosa ascensão econômica do país: a distância intransponível entre os sonhos da nova classe média e a realidade da maioria ainda presa à pobreza.