As metas ambiciosas estabelecidas para frear a atual extinção em massa podem já estar se tornando inatingíveis, apenas um ano após serem definidas, segundo novas pesquisas. Os dados sobre aves e mamíferos mostram um enorme atraso entre as mudanças ambientais e seu impacto nas populações animais, chegando a até 45 anos, dependendo da espécie e dos fatores que impulsionam as mudanças.
O histórico "pacto de paz com a natureza" prometido na Conferência da Biodiversidade das Nações Unidas (COP 15) em dezembro do ano passado, pode já estar defasado. Isso ocorre porque o atraso entre as mudanças ambientais e seu impacto nas populações animais não foi levado em consideração nas projeções de perdas futuras.
Pesquisadores do Museu de História Natural alertam que temos menos tempo do que se pensava para agir de forma integrada e ambiciosa a fim de deter a perda de biodiversidade até 2050.
O estudo mostra que os impactos passados das perdas de habitat e das mudanças climáticas são mais úteis para explicar as tendências atuais no tamanho das populações de aves e mamíferos do que os impactos recentes. Isso implica que não veremos as consequências gerais das mudanças que implementamos hoje por pelo menos uma década na maioria dos casos.
As espécies maiores apresentam atrasos ecológicos mais longos do que as menores, o que significa que veremos os impactos atuais nas populações de aves e mamíferos menores em cerca de uma década, mas teremos que esperar ainda mais para entender os impactos totais nas espécies maiores.
As populações animais continuarão respondendo às mudanças ambientais passadas até 2050. Mesmo esforços radicais de restauração da terra podem não ser suficientes para interromper os declínios populacionais até 2030.
Os pesquisadores pedem investigações urgentes para compreender como esses atrasos influenciam diferentes níveis da cadeia alimentar e diferentes regiões.
Atualmente, as taxas de extinção globais são dezenas a milhares de vezes mais altas do que o esperado sem a interferência humana. Modificamos até 70% de todas as terras, deixando habitats menos produtivos em nosso rastro.
As mudanças climáticas já estão reorganizando a vida em nossos oceanos e a situação tende a piorar.
Este novo estudo revela que devemos olhar ainda mais adiante no futuro para compreender o impacto total na biodiversidade. As áreas protegidas são um trunfo nos esforços de conservação, especialmente para as aves, e a COP15 prometeu garantir 30% do planeta para proteção.
"Mesmo se 30% das terras estiverem protegidas até 2030, serão necessárias intervenções adicionais para mitigar a exploração a fim de salvaguardar adequadamente a biodiversidade e a contribuição da natureza para as pessoas", alerta a equipe de pesquisadores.
A boa notícia é que a gestão ativa das áreas protegidas ajuda a mitigar as ameaças decorrentes do uso direto da vida selvagem, como a caça, importante para o sustento de muitas pessoas. Isso pode continuar se os limites sustentáveis forem mantidos, como as cotas de caça.
Além disso, o esforço para gerenciar e restaurar habitats traz benefícios diretos para a saúde humana. Ecossistemas saudáveis e funcionais têm menos chances de transmitir doenças para as populações humanas.
A conservação da biodiversidade é benéfica para nós, para os ecossistemas mais amplos em que vivemos e para a mitigação das mudanças climáticas. Nossas ações devem ser rápidas e significativas se quisermos salvar o que resta.
Diante dessa realidade preocupante, é crucial agirmos de maneira rápida e significativa para preservar a biodiversidade e garantir a sobrevivência das espécies. A adoção de medidas urgentes e a gestão adequada das áreas protegidas são fundamentais para alcançar esses objetivos e mitigar os efeitos devastadores das mudanças climáticas e da extinção em massa.